Segundo ele, os módulos habitáveis podem ser utilizados em casas, quartos de hotéis, prédios de escritórios, estabelecimentos comerciais, alojamentos e qualquer outra construção. A grande vantagem está na estrutura. Robustos e feitos de aço tratado contra corrosão, os contêineres podem ser empilhados, exigindo menor investimento em fundação e colunas. Adaptam-se facilmente aos terrenos, permitem construção por etapas e oferecem mobilidade. "Para mudar de endereço, basta desmontar a casa e colocá-la em cima do caminhão."
A obra também é mais rápida e limpa, já que o terreno receberá tudo pronto de fábrica. "É como montar peças de lego." A estética do contêiner também evita o gasto com materiais para acabamento externo. "Assumindo as características e o visual das caixas é possível reduzir em até 35% os custos da obra", explica Corbas. Para quem não gosta da aparência do caixote, a arquitetura modular permite a instalação de fachada, combinando o cenário externo com a estrutura robusta do contêiner. O custo do metro quadrado construído pode variar entre R$ 800 e R$ 1,6 mil, sem contar o terreno. "No final, o preço pode ficar bem perto da alvenaria. Mas os ganhos ambientais são enormes."
O apelo da reciclagem seduz o segmento de construção que encara o desafio de reduzir impactos ambientais. De acordo com Francisco Cardoso, professor do departamento de engenharia civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), essa indústria responde por 40% dos impactos ambientais do planeta. "É importante estudar métodos construtivos que aproveitem material disponível e ajudem a mitigar os efeitos. Mas os projetos têm de garantir saldo positivo", afirma. Cético, ele acredita que a construção metálica modular sirva para uso provisório. "As construções definitivas requerem muita tecnologia e gente preparada", alerta.
De fato, os contêineres exigem projetos com isolamento térmico e acústico nas paredes e estudo do terreno para desenhar janelas que permitam circulação cruzada de ar. As medidas são necessárias para reduzir o uso de ar-condicionado ou aquecimento, oferecendo também eficiência energética. Morar em uma caixa metálica sem tratamento é o mesmo que habitar um forno no verão e uma geladeira no inverno. Para garantir o mesmo desempenho de uma casa de alvenaria, é preciso respeitar o microclima local e prever soluções conjugadas como a instalação de ecotelhados e outros atributos para casas sustentáveis. "Dependendo das exigências do projeto, o custo empata com a alvenaria ou pode ser até maior", alerta a arquiteta Juliana Fuzetto. Outra dificuldade é encontrar contêineres para transformação no Brasil e mão de obra adequada para prepará-los.
Na Holanda, onde adoção de contêineres habitáveis é uma solução consolidada, é possível encontrar hotéis e residências com unidades recicladas. Quinten de Gooijer, executivo da Tempohousing, afirma já há um mercado internacional para a venda de unidades habitacionais construídas a partir de contêineres marítimos. É possível ter acordo com empresas que trabalham nos portos ou adquirir módulos prontos na China.
Com esse método pré-fabricado, a Tempohousing construiu a maior vila de contêineres do planeta em Amsterdã. A solução resolveu a carência da capital holandesa por dormitórios para estudantes, criando um alojamento com mil contêineres, "Todos os apartamentos foram montados com unidades recicladas e são dimensionados para atender às demandas dos estudantes", afirma. Outra vantagem está na mobilidade. A vila pode ser desmontada e instalada em outro local.
De Gooijer vê o Brasil como um mercado atraente pelo aumento da renda da população e o crescimento do mercado imobiliário. A Tempohousing pretende abrir escritório por aqui e oferecer casas, hotéis e escritórios. Experiência internacional em países quentes não falta à companhia holandesa, que montou um hotel de alto padrão na Nigéria. Para o Brasil, a aposta está na oferta de casas com 60 m2, prontas para morar. "No mercado internacional, essas unidades custam em média US$ 30 mil", afirma.
Mas vender contêineres habitáveis no Brasil ainda é um negócio complicado. O preconceito vem sendo quebrado aos poucos. O empresário gaúcho André Krai transformou contêineres descartados em butiques de moda e montou a franquia Loja Container Ecology Store. "Queria ter um varejo que fugisse dos altos custos dos shoppings e, ao mesmo tempo, não obrigasse o dono da loja a construir no terreno", explica.
O uso das caixas contribuiu para a criação de unidades de venda modulares, de construção rápida e com todos os atributos ecológicos. O preço também é acessível. A loja pronta, com todos os cursos, estudos de mercado e taxas fica entre R$ 79 mil e R$ 250 mil.
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